Desde setembro de 2018, quando o então-candidato Jair Messias Bolsonaro foi atingido por uma facada, em Juiz de Fora (MG), durante um ato de campanha, a intrigante pergunta e a necessidade de uma resposta convincente ainda ecoam. O ex-psolista Adélio Bispo foi identificado como autor da facada e preso, em flagrante.

Considerado um lobo solitário, em junho de 2019, Adélio foi absolvido do crime por ser considerado inimputável, ou seja, incapaz de responder pelos atos praticados, e condenado a cumprir pena em internação psiquiátrica, por tempo indeterminado.

Em maio de 2020, o segundo inquérito da Polícia Federal sobre o ataque a faca foi concluído, com a indicação de que Adélio agiu sem ajuda de terceiros, tendo sido o cabeça do planejamento e execução do crime, cujo “claro propósito era o de tirar a vida” do deputado-candidato, por meras motivações políticas e ideológicas.

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No entanto, a linha de que ele agiu por conta própria não convenceu a muitos, uma vez que Adélio não tinha dinheiro nem meios para financiar uma operação terrorista solitária. Outras dúvidas persistem, como o registro da presença dele – ainda mal explicada – na Câmara dos Deputados, no dia da facada, além do financiamento da defesa por uma banca de advocacia renomada. O ex-psolista teve à disposição, horas depois do atentado, a três advogados, que se empenharam na defesa “por amor ao próximo”. A corrente de que ele foi encorajado e bancado por alguém ou por um grupo ainda alimenta essas e outras dúvidas.

Em novembro passado, a Polícia Federal reabriu a investigação, depois que a Justiça liberou a análise de dados do advogado de Adélio, Zanone Manuel de Oliveira Júnior. A 3ª Vara de Juiz de Fora autorizou a quebra do sigilo bancário do operador do Direito e a apreensão do celular dele, livros-caixa, recibos e comprovantes de pagamento de honorários.

Inconformado com as conclusões oficiais e em tom de insatisfação, o presidente Bolsonaro voltou a falar do caso, em pronunciamento que fez ao sair de mais uma internação decorrente da tentativa de homicídio, nesta quarta-feira (05/01).

Também nesta semana, um novo delegado federal, Martin Bottaro Pupper, foi designado para conduzir a continuidade das apurações. Pupper tem experiência em investigações de homicídios. Ele atuou, por exemplo, no caso dos assassinatos de servidores da Penitenciária Federal de Catanduvas, por integrantes da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital). Não há prazo para a análise do material, que está em posse da Polícia Federal desde o fim de 2018. A verificação havia sido suspensa por uma decisão liminar do desembargador Néviton Guedes, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1).

Com a quebra do sigilo bancário de Zanone, a polícia quer saber se ele foi contratado por um terceiro ou se decidiu assumir o caso atraído pela exposição midiática. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) anunciou que vai recorrer da decisão que liberou o acesso ao conteúdo do celular.

As vísceras perfuradas do presidente da República são apenas mais um triste capítulo da intolerância dos “donos da tolerância” e, principalmente, de um atentado à democracia. O inconformismo político deve ser traduzido nas urnas e não numa vil tentativa de eliminar a vida de um adversário eleitoral. A História ainda está sendo contada. Aguardemos, pois.

 

By Mércia Maciel, jornalista e pedagoga, formada pela Universidade de Brasília.

 

 

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