Há quase dois anos, o mundo se vê às voltas com a pandemia da Covid-19. As perdas afetivas, sociais e econômicas solaparam países e esgaçaram os sistemas de saúde. A politização vil da crise sanitária também mostrou as garras.
Mas uma ponta de esperança chegou, no início do mês, com o anúncio da farmacêutica norte-americana Merck (MDS), que, em parceria com a Ridgeback Biotherapeutics, apresentou o remédio experimental molnupiravir. O medicamento oral inibe a replicação do novo coranavírus, reduzindo, assim, a carga viral. O remédio também foi eficaz contra as variantes gama, delta e um.
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O cenário é promissor. Segundo dados preliminares dos testes clínicos de fase 3, o antiviral reduziu hospitalizações ou mortes em 50% de adultos, com sintomas leves ou moderados. O estudo acompanhou 775 pacientes não vacinados e candidatos a desenvolverem a forma grave da doença, devido a problemas de saúde, como diabetes, doenças cardíacas e obesidade.
O medicamento foi administrado em até 5 dias, após o início dos sintomas. Segundo o ensaio clínico, 30 dias depois, a taxa de internação entre aqueles que receberam a droga foi de 7,3%. Já dos que receberam placebo, 14,1% foram hospitalizados ou morreram. Não houve óbitos no grupo molnupiravir, enquanto 8 pacientes que não receberam o comprimido perderam a vida. A Merck não especificou os efeitos colaterais relatados pelos dois grupos.
As companhias já solicitaram às autoridades de saúde dos Estados Unidos, o uso emergencial do remédio e vão formalizar o pedido de comercialização para outras agências reguladoras ao redor do mundo. Se forem bem-sucedidas, o molnupiravir será o primeiro antiviral oral contra a doença. Os medicamentos aprovados nos EUA até agora – o remdesivir e outros 3 tratamentos com anticorpos monoclonais – devem ser administrados por via intravenosa, em hospitais ou clínicas. A Merck também não anunciou o valor para comercialização do comprimido.
Outra boa notícia se avizinha. A brasileira Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) anunciou que, na próxima semana, fará parte de um estudo internacional, de fase 3, para testar a eficácia do medicamento na luta contra a propagação do vírus. O estudo ocorrerá em sete centros, no Rio de Janeiro, Mato Grosso, Amazonas, Rio Grande do Sul e São Paulo, simultaneamente.
Participarão do ensaio, os voluntários não vacinados, que tiveram contato com alguém que testou positivo nas últimas 72 horas. A pílula será administrada, durante cinco dias consecutivos, duas vezes ao dia. A etapa 3 terá a duração de 6 meses.
A corrida por uma pílula salvadora também levou a multinacional Pfizer e a farmacêutica suíça Roche Holding AG também trabalham no desenvolvimento de medicamentos, mas ainda não avançaram como a MSD.
Até lá, o mundo aguarda a cura para a doença, que matou, isolou e sacrificou tantos.
By Mércia Maciel, jornalista e pedagoga, formada pela Universidade de Brasília.
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