Depois de quatro inomináveis meses de espera, o ex-ministro da Justiça e ex-Advogado-geral da União do Governo Bolsonaro, André Mendonça, o “terrivelmente evangélico”, tomou posse, nesta quinta-feira, como novo ministro do Supremo Tribunal Federal. Pastor presbiteriano, Mendonça é o segundo indicado pelo presidente da República para uma vaga na Corte.
O nome do reverendo foi cercado de preconceito e cerceamento ao exercício constitucional da fé. Durante a sabatina, fase obrigatória para aprovação de um indicado, senadores progressistas tentaram encurralar o ex-ministro, numa tentativa pérfida de desqualificá-lo ao cargo. Mendonça teve que responder a questionamentos sobre a religião que segue, como se isso fosse suspeito ou ilícito. Algo que não ocorreu a nenhum dos outros integrantes da Corte. Já interrogações sobre os conhecimentos de Direito e de temas afetos ao futuro trabalho foram desprezadas. Mas como Davi, diante do gigante Golias, ele não deu espaço e garantiu que, na cadeira de juiz, atuará, segundo a Constituição, e que sim, seu livro de cabeceira é a Bíblia.
Photo by MESSALA CIULLA from Pexels
As perguntas sobre a fé do candidato mostraram uma boa pitada de preconceito e foi mais um capítulo da oposição desmedida ao governo Bolsonaro. Até mesmo o novo visual de André Mendonça, que fez implante capilar, enquanto aguardava o ignóbil presidente da CCJ do Senado marcar a sabatina, ganhou manchetes pejorativas.
Os “bacaninhas” progressistas – que pregam a tolerância, mas são intolerantes – fecham os olhos à realidade ao ignorar a gigantesca população evangélica. Tal desprezo é um tiro no pé, uma vez que a hostilidade estampada em discursos elitistas e na saga da imprensa militante demonstra, explicitamente, falta de empatia e de respeito.
Desclassificar quem leva a religião a sério é hostil e desonesto, uma vez que, enquanto torcem o nariz para aqueles que professam a fé evangélica, alegando que as convicções religiosas pautarão as decisões togadas, aplaudem os que compartilham a própria ideologia. Sepulcros caiados!
O ex-ministro comemorou a posse num culto, que contou com a presença do presidente Bolsonaro e da primeira-dama, Michele; de ministros, além de políticos, pastores e fiéis. O único novo colega a prestigiá-lo foi o ministro Ricardo Lewandowski, que disse não ver problema na religiosidade, pelo contrário, uma virtude.
O novo ministro é favorável à prisão, após o julgamento, em segunda instância, como uma defesa ao direito individual da vítima. A constitucionalidade da execução antecipada da pena – quando não há mais produção de provas – defendida por Mendonça, ajuda a explicar a resistência à indicação, uma vez que o novo togado herdou o acervo do antecessor Marco Aurélio Mello sobre o tema.
Conheci André Mendonça, há sete anos, quando escrevia para uma revista evangélica. Procurava uma fonte para a reportagem e recebi a indicação do nome. Ele estava em Salamanca, na Espanha, onde fazia doutorado em Estado de Direito e Governança Global. Além de advogado, é também mestre em Estratégias Anticorrupção e Políticas de Integridade também pela universidade hispânica. Mesmo a distância, o conhecimento, a simplicidade e a gentileza me encantaram. Seis anos depois, voltei a entrevistá-lo, como Advogado-geral da União.
Agora, na torcida para que desempenhe seu papel, com sabedoria, valor, empatia e honestidade.
By Mércia Maciel, jornalista e pedagoga, formada pela Universidade de Brasília.