“A história é escrita pelos vencedores”, disse o renomado escritor de 1984 e Revolução dos Bichos, George Orwell. No entanto, não vale reescrevê-la. Um pouco mais de um mês de governo, o presidente Lula da Silva coleciona sandices e declarações polêmicas.
Por duas vezes, Lula afirmou que o impeachment de Dilma Rousseff foi golpe, carimbando na testa do ex-presidente Michel Temer, que sucedeu a petista, de golpista. Em nota, Temer rebateu a declaração em seu perfil do Twitter afirmando que o ex-presidiário “mantém os pés no palanque” e “insiste em olhar para o retrovisor, tentando reescrever a história, por meio de narrativas ideológicas”.
A reação de Temer à declaração estapafúrdia foi silenciosa. Protagonista do impedimento, o Congresso Nacional seguiu o rito constitucional, referendado pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) à época, Ricardo Lewandowski, que comandou a sessão do Senado, Casa onde o processo de destituição da petista foi concluído, com 61 votos favoráveis contra 20 contrários.
Ao aceitar mais uma narrativa lesiva à democracia, a Suprema Corte teria sido co-partícipe do golpe imaginário dos petistas? O Tribunal, no entanto, calou-se diante do insulto do presidente da República. Ou apenas é golpe questionar a falta de transparência das urnas eletrônicas brasileiras?
Intencionalmente, Lula abusa do jogo de palavras, de olho no futuro – o dele! Quando repete a narrativa de que o impeachment de Dilma Rousseff foi golpe, tentando dar ilegitimidade à decisão constitucional, ele deixa o gatilho pronto para que, se o pedido de afastamento dele seja feito a grita esteja pronta: “É golpe!”
Nesta semana, Lula deu o sinal ao rebanho militante para terceirizar a possível culpa da derrocada econômica que se avizinha. O bode expiatório da vez é o Banco Central, capitaneado pelo premiado Roberto Campos Neto, depois de recorrentes críticas à autonomia da instituição, uma conquista histórica aprovada no governo Bolsonaro, que reduziu as chances de interferência políticas nas decisões do BC. Livre dessa ingerência, o Banco Central ganhou mais credibilidade junto aos investidores nacionais e estrangeiros e trouxe segurança jurídica.
Em um mês, foram pelo menos oito ataques ao antagonismo entre ricos e pobres, alimentando o famigerado e histórico petista do “nós contra eles”. O uso de linguagem neutra, nomeações de economistas com convicções intervencionistas, enfrentamento com militares também marcaram o início da gestão do petista.
Por: Mércia Maciel
Jornalista e pedagoga, formada pela Universidade de Brasília