Sentir-se triste é uma reação natural diante de frustrações, de um passado sofrido, de escolhas erradas, de perdas ou medo delas. Mas se o sofrimento vem sem motivo ou a reação a ele é desproporcional; se a melancolia insiste em não dar trégua; se a solidão for a melhor companhia e até mesmo o desejo de morrer, uma opção…cuidado! A depressão entrou em cena.
Em todo o mundo, cerca de 300 milhões de pessoas sofrem desse mal. Há sete anos, a Organização Mundial de Saúde (OMS) calculava que, em duas décadas, o distúrbio emocional ocuparia o segundo lugar no ranking das doenças que mais matam. A pandemia da Covid-19, certamente, ajudou a abreviar esse tempo.
O cristão pode sofrer de depressão? Essa dor da alma é uma doença psíquica ou uma ação maligna? Longe de qualquer intenção de responder a essas perguntas, uma constatação: a igreja, muitas vezes, é a primeira a fechar os olhos para o problema do irmão. Logo, a indiferença se reveste de um manto de falsa santidade e, em lugar da mão amiga estendida, surgem julgamentos precipitados e condenações – “É falta de fé!”, exclama um. “Crente fiel não passa por isso!”, constata, outro. Isso quando não se põe na conta do diabo (sem eximir sua ação maléfica na área emocional do homem), a culpa pela depressão.
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Sim. O ambiente eclesiástico, equivocamente, leva o cristão a pensar que está imune a doenças emocionais e protegido das fragilidades humanas. Mas a própria Bíblia narra histórias de heróis que viveram momentos difíceis e de conflitos da alma. Quem poderia imaginar que o profeta Elias, um homem espiritual, que enfrentou corajosamente a apostasia do povo de Israel, os falsos profetas e a ira de seus inimigos, render-se-ia à depressão?
Por conta da cultura “triunfalista” que impera nas igrejas de que o cristão deve estar sempre alegre porque é um vencedor, muitos negam a doença e não se submetem ao adequado tratamento. Sem contar que a culpa acompanha quem está nessa situação. Sem dúvida, o linchamento moral autoinfligido é um dos aspectos mais danosos, com o qual o deprimido tem que lidar.
Infelizmente, o Evangelho que se prega hoje é revestido de um triunfalismo barato, no qual Deus parece ser obrigado a nos fazer ricos, sãos e famosos, escanteando os propósitos Dele para cada um e a certeza de que, em meio ao sofrimento, inerente à condição humana, há a esperança traduzida na promessa de Jesus – “No mundo, tereis aflições, mas tende bom ânimo porque eu venci o Mundo”.
By Mércia Maciel, jornalista e pedagoga, formada pela Universidade de Brasília.
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