Um rebanho sem pastor. A cada dia, cresce o número de cristãos que optam por servir a Deus longe dos templos. Boa parte dos sem igreja já teve experiência comunitária, mas desiludida com lideranças e rituais eclesiásticos ou feridos em relacionamentos fraternais deixou o aprisco. Muitos chamariam esses irmãos de rebeldes, desviados, desobedientes à exortação do apóstolo Paulo em congregar. Mas o rótulo não impede que sigam sua caminhada solitária ou em pequenos grupos.

No Brasil, o fenômeno foi constatado em números, pela primeira vez, em 2003. Segundo levantamento do IBGE, de 2003 a 2009, o contingente de evangélicos que disse não ter vínculo institucional saltou de 4% para 14%, cerca de 4 milhões de pessoas. E a cada dia, os desigrejados se multiplicam por todo o país.

 

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As feridas na alma, causadas por líderes despreparados ou sem compromisso com o Reino de Deus, também empurram fiéis para fora da igreja. Muitos nascidos em lar evangélico adotaram o “Believing without belonging” (crer sem pertencer), expressão usada pela socióloga britânica Grace Davie sobre o esvaziamento das igrejas, na Europa Ocidental.

Preocupado com os crentes que vivem a fé solitária e com o futuro da instituição, o pastor, músico e conferencista, Nelson Bomilcar, acompanha esse cenário. Autor do livro “Os Sem-Igreja – Buscando o caminho de esperança na experiência comunitária”, Bomilcar lançou um novo olhar para a igreja contemporânea.

Aos fiéis solitários, alertou que a convivência entre pessoas sempre envolve riscos e decepções, mas vale a pena. Aos igrejados, ele propõe uma autocrítica para que a experiência comunitária não seja refém de líderes personalistas, que cultivam projetos pessoais e de uma estrutura engessada, muitas vezes conduzida de forma arrogante e que não encara os desafios modernos, sob a luz do Evangelho.

“A igreja de Jesus Cristo é como a arca de Noé: o mau cheiro de dentro seria insuportável se não houvesse uma tempestade do lado de fora”. A frase do escritor norte-americano, Charles Colson), que ficou conhecido mundialmente como ex-assessor especial do presidente Richard Nixon e com o envolvimento no escândalo Watergate, que o levou a cumprir sete meses de prisão, onde se converteu, é lembrada por aqueles que defendem a reunião nos templos.

A equivocada ideia de que igreja é lugar de santos e imaculados ajuda a afastar os fiéis dos templos. No entanto, a igreja não é uma reunião de pessoas perfeitas, mas de pecadores que buscam a santidade. Quem procura essa perfeição é movido pela ingenuidade do idealista ou pela conveniência de quem não quer envolvimento com o Corpo de Cristo.

 

By Mércia Maciel, jornalista e pedagoga, formada pela Universidade de Brasília.

 

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