Enquanto o mundo assiste aos desdobramentos da invasão russa à Ucrânia, o Brasil está na antessala das eleições presidenciais, marcadas para outubro. No século IV a.C., o filósofo grego Platão (427 a 347 a.C.) já alertava que não havia nada de errado com aqueles que não gostam de política, mas “o maior castigo para esses é que seriam governados pelos que se interessam”.

Lá vai o tempo em que o brasileiro torcia o nariz para os bastidores do poder. Se antes ele sabia escalar os craques da Seleção Canarinho, agora, conhecem de cor os nomes dos integrantes do STF e de ministros, como da Saúde, da Infraestrutura e dos Direitos Humanos.

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Arrisco-me afirmar que o fim da apatia política começou com o julgamento da Ação 470, o famoso Mensalão – compra de apoio de deputados pelo Governo Lula, desvendado em 2005, e maior golpe recente à democracia brasileira. As sessões foram acompanhadas pelo cidadão, que não desgrudava os olhos da TV. De “técnico” de futebol, o brasileiro virou “especialista” em embargos, acórdãos, agravos e juízo delibatório.

Depois, veio a Operação Lava Jato e mais aulas de juridiquês, embaladas pela torcida para ver cada ladrão do nosso vilipendiado país condenado. Data vênia, o brasileiro acordou, de vez, com a onda conservadora que elegeu Jair Bolsonaro, em 2018. Sem esse despertar, a defesa de pautas caras ao brasileiro, como a luta contra o aborto, teria naufragado.

A internet democratizou o acesso à informação e, lamentavelmente, à desinformação. Enquanto a mídia se retorce em vender narrativas, esquecendo-se da objetividade jornalística, o cidadão precisa reacender, vigorosamente, essa paixão. No tabuleiro político, não há espaço para isentões. A tal “terceira via” é esquerda disfarçada. Se os conservadores não elegerem seus candidatos, a esquerda escolherá. Render-se à letargia política não é uma opção.

 

By Mércia Maciel, jornalista e pedagoga, formada pela Universidade de Brasília.

 

 

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